sexta-feira, 11 de abril de 2014

As perguntas da madrugada.



Existem momentos na vida em que nos vêm à cabeça perguntas que parecem um pouco sem sentido.

Chegam-nos por via das dúvidas que surgem depois de um mau dia fora de casa, depois de uma discussão mais acesa com um familiar ou depois de algo que aparentemente fazia sentido na nossa vida, deixar de o fazer, de um momento para o outro. 

Essas perguntas, a mim, chegam-me de madrugada, quando sou atacada pelas insónias e o sono não vem. 

Fico às voltas na cama, a ver as perguntas surgirem-me na cabeça quando faço tudo para as tentar fazer desaparecer. 

Sim, porque geralmente, as perguntas que me surgem são aquelas para as quais eu não tenho resposta.

São aquelas perguntas que teimam a aparecer quando tudo parecer estar a correr bem, relembrando-nos que, apesar de tudo, ainda não temos respostas para aquilo que nos atormenta. 

Por exemplo: 

Pergunto-me muitas vezes porque é que as pessoas têm que ser tão preconceituosas e mesquinhas ao ponto de nos atirarem a cara que o facto de alguém ter excesso de peso ou falta dele, vestir-se duma ou de outra forma, ter ou não ter tatuagens, usar ou não piercings, os impede de arranjar trabalho. 

Claro, não culpam os políticos, não culpam a crise económica e social pelo qual o país está a passar, não culpam o sistema que só é bom para quem tem cunhas, culpam sim, quem procura trabalho e não o encontra porque é gordo, magro, alto, baixo, homem ou mulher.

Alguém me explica onde é que isto faz sentido?!

Juro que por mais que tente, não consigo perceber o que faz com que alguém que fuja ao dito "padrão de beleza da sociedade moderna" tenha mais ou menos oportunidades de emprego, seja mais ou menos competente no cargo para o qual se candidata. 

Se seguirmos esta lógica, acho que em vez de nos inscrevermos no centro de emprego, e deixarmos lá o nosso currículo, mais valia estarmos inscritos numa agência de modelos e deixarmos lá o nosso book, para que assim esta recrute trabalhadores consoante o "padrão de beleza" exigido pela empresa. 

Se assim fosse, poupavam-me trabalho a enviar currículos. Pelo menos iria saber, consoante o "padrão de beleza" no qual me insiro, para que função estaria apta. 

Acreditem, isto não são frustrações duma jovem que não tem mais nada para fazer à vida a não ser levantar questões parvas. 

São sim sentimentos de alguém, que está constantemente a ser "atacada" e "julgada" por ser excepção à regra. 

E acreditem, isso tira-me profundamente do sério.

Porque começo a pensar que aqui para os meus lados, fugir a essa regra exigida de pertencer ao "padrão de beleza da sociedade moderna" é mais criminoso do que os constantes cortes salariais a que a função pública e os pensionistas estão sujeitos.

É mais criminoso do que o aumento de impostos, do que a taxa de desemprego que não pára subir e do que o número de pessoas, cada vez maior, que se aventuram na emigração, na tentativa de encontrarem uma vida melhor lá fora. 

E em pleno século XXI, onde, supostamente, estamos a viver num país europeu desenvolvido, esta mentalidade antiquada, preconceituosa e ridícula, tira-me complemente do sério.


«Sandy»

As pessoas julgam a aparência, mas esquecem-se que o mal da sociedade são as pessoas sem carácter.

Renato Russo